O UNIVERSO DAS PALAVRAS EM MANUEL ANTÓNIO PINA
No Levante da Maia, as palavras do patrono abraçam,envolvem e aconchegam quem por lá passa...
"Às vezes, acontece frequentemente... A minha relação com as palavras, muitas vezes, é deixá-las ir sozinhas. Porque elas acabam sempre por falar sozinhas, e têm lógicas próprias que nós não dominamos totalmente, e que têm a ver com a matéria poética. Dizia também o Valéry que a poesia é uma hesitação permanente entre o som e o sentido. Há palavras mais amigas de outras, verbos que se relacionam melhor com alguns advérbios e outras palavras, não só em termos culturais, mas também pelas sonoridade delas, e sentidos. Há palavras que se dão mal umas com as outras. Se as deixarmos um bocadinho em liberdade acabam por encontrar o seu caminho... Tem a ver com a escrita. Quando escrevemos as coisas vão mais além, o que estava na cabeça era uma coisa e o lugar onde chegamos é outra. Às vezes frustram-me, porque posso sentir que me deixam desiludido, por não corresponderem às expectativas. Nunca sei o que vou dizer, na poesia. Escrevo para saber o que quero dizer, por isso não posso falar de diferença nessa correspondência com o que quero dizer, mas às vezes gostava que elas fossem um bocado, um bocadinho, mais longe. Têm os seus limites. Resistem, e isso pode ser uma forma de frustração. Mas elas têm mais razões de queixa, e frustração, em relação mim do que eu em relação a elas. Eu sou mais infiel às palavras do que elas a mim. Se não me obrigarem a ter uma relação com elas, não digo propriamente ir para a cama com elas, eu frequentemente vou jogar snooker ou ver um jogo de futebol, ou outra coisa qualquer..." Manuel António Pina
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