O Burro e a Poesia

Certa vez, Dona Poesia passeava por um caminho íngreme que levava ao pico de uma montanha. Andava para se distrair, pois naquele dia não havia encontrado ninguém que lhe desse a honra de ser transformada em letras... Conversou com as flores, com os passarinhos, e até se banhou nas águas de um pequeno riacho que por ali corria límpido e transparente.
Sentindo-se cansada, já se ia recolher em seu castelo de nuvens quando viu um burro que caminhava de cabeça tão baixa, que quase beijava o chão... Ela ficou penalizada e foi ao seu encontro.
-Bom dia Sr. Burro! O que houve que o senhor está tão triste? Está indo a algum lugar? Posso ajudá-lo?
O Burro com dificuldade, levanta a cabeça para visualizar a dona daquela voz tão envolvente que o questionava.E assustou-se, pois, não havia ninguém, ou melhor, ele sentia aquela presença, mas não conseguia visualizá-la.
-Bom dia, respondeu o Burro. Meio sem graça, pois, pensou que por sua fraqueza, já não conseguia mais enxergar.E sem perguntar com quem falava,tentou logo explicar-se.Estou indo ao pico da montanha, porque me disseram que lá mora a Poesia, e dizem que ela nos ajuda a encarar as angústias e tristezas da vida.
-Sabe senhora, há muito tempo que venho sofrendo, e agora sinto que minha vida está findando, e dizem que a poesia nos dá vida nova. Dizem que ela é mágica, e que cura todas as feridas d´alma. Então tentei escrever algumas, mas repreenderam-me dizendo que não podia escrever tristezas, que só podia se fossem poemas de alegria. Como não tenho essa alegria, vou ao pico da montanha na esperança de lá encontrar uma alegre poesia.
Dona Poesia ouviu emocionada o relato do Burro. E com lágrimas nos olhos,envolveu-o numa suave brisa fazendo-o perceber de que não era um Burro, mas sim um magnífico Alazão. E disse-lhe:
-Sr. Burro, digo, sr. Alazão o senhor não precisa caminhar mais, pois quem você procura, mora em qualquer lugar, não existe uma regra para os sentimentos em poesia, ela envolve todos os sentimentos, inclusive a tristeza... e transformando essa tristeza em poesia, você estará libertando a maior delas, que é a do amor e da alegria... Quem o recriminou por escrever tristezas é porque nunca conheceu a verdadeira magia da Poesia... Ser poeta, não é para qualquer mortal, pois esse mundo mágico pertence a seres especiais que por vontade do Criador vieram viver entre os seres comuns...
Naquele momento, o Alazão visualizou uma Potranca toda faceira trotando pelas ruas de um imenso jardim...
Anónimo